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"Body Horror", "Crash" e a beleza do corpo humano

Há uma curiosidade e uma fascinação inerente ao humano em relação ao seu corpo. De certa forma, essa fascinação pode ser categorizada como uma espécie de medo ou desgosto. A repulsa ao sexo, ao parto, à morte. O nojo de si mesmo.

David Cronenberg, cineasta canadense pioneiro do subgênero “body horror”, cujos filmes são célebres por apresentar de forma intencional violações gráficas ou psicologicamente perturbadoras do corpo humano, afirma que não há horror no corpo, em seu ponto de vista, apenas beleza. Segundo ele, “o corpo é a essência do cinema e a condição humana, a essência de toda a arte”.

Justamente, desde que se há referência, o humano produz arte com e sobre seu corpo. As antigas pinturas rupestres, que retratam homens e bestas, as esculturas gregas, representantes dos ideais helenísticos de beleza, a arte renascentista… assim em diante. Até os dias atuais, o corpo humano é central em todos os tipos de arte. Seja ela sobre ou produzida por ele.

O cinema, como mencionado por Cronenberg, dialoga muito com todas as questões relacionadas à curiosidade acerca do corpo humano. Pode-se tomar como exemplo o próprio diretor canadense, que chocou o júri de Cannes em 1996 com seu filme “Crash - estranhos prazeres”. A obra retrata pessoas desfiguradas por acidentes de carro, que nutrem um estranho tesão pela reprodução desses casos, examinando o grotesco do sexo, usando a violência, o medo e o descontrole como motores do desejo carnal. 

O filme, premiado por sua “originalidade, ousadia e audácia”, explora o horror na relação entre o corpo humano e a tecnologia, a relação entre o homem e a máquina, assim como a ligação entre o sexo e a violência. Por mais perturbadora que a película se mostre, há beleza na obra de Cronenberg. O autor, famoso por seus filmes subversivos, não falha em nos apresentar o nojento e o repulsivo de forma sensível. 

Apesar do desgosto que a humanidade nutre por seus próprios corpos, Cronenberg e o “body horror” são provas de que até o mais asqueroso e grotesco do corpo é capaz de ser hipnotizante por sua beleza. Num mundo onde o medo se confunde com o esmero, levantam-se as questões: O que é a feiura? O que é o nojento?

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