Dois anos atrás, fui à Inglaterra. Fiz um pequeno intercâmbio, que durou um mês, em que tinha aulas de Ciência Forense. A escola ficava em Oxford, num bairro chamado Summertown.
No bairro havia diversas lojas e supermercados, os quais eu e minhas colegas visitávamos todos os dias em nosso tempo livre. “Hey, let's get a salad at M&S” ou “Let's get some diet coke at Tesco's”. Nos divertíamos.
Mas, meu lugar favorito no bairro não era nenhum dos supermercados. Era uma livraria, a Daunt Books. Sempre vou me lembrar desse nome. 247 Banbury Road era o endereço.
Nós íamos à livraria todos os dias também, especialmente ao final da tarde. Eu praticamente gastei todo o meu dinheiro lá. Às vezes ia sozinha e passava um tempo conversando com as funcionárias. A moça do caixa era uma menina loira de uns vinte e dois anos. Lembro-me de ter perguntado seu nome, mas não me recordo da resposta.
Uma vez, tive uma conversa mais profunda com ela. Ela disse que tinha reparado em mim, que me via quase todos os dias na loja e que eu devia gostar muito de livros. Eu respondi que sim, que gostava muito de ler e que às vezes escrevia coisas. Uns poemas, estilo Sylvia Plath. Ela comentou que deviam ser bons.
Contei à ela sobre meu curso e ela pareceu surpresa. “O que uma escritora faz estudando Ciência Forense?” Eu só disse que também era um interesse meu, mas na realidade não sabia muito bem.
Naquele dia, comprei um livro. Acho que foi “Animal”, de Lisa Taddeo. Rimos quando ela me entregou o pacote dizendo que eu ia gostar do livro se gostava de Sylvia Plath. Eu a agradeci.
Quando estava deixando a livraria, me virei para trás sorrindo, “quero vender um livro seu algum dia”, ela disse, por fim.
Fechei a porta. Estava ficando frio. O verão na Inglaterra é muito quente, mas as noites têm uma brisa característica. Fiquei alguns minutos na calçada, só encarando a fachada do lugar. Daunt Books. 247 Banbury Road. Sempre vou me lembrar desse nome.
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