Encontrei a Phoebe Bridgers por acaso, em 2021, em meados do mês de setembro. Me lembro bem, porque admito que foi num vídeo no TikTok, no qual uma garota falava de “fall music recommendations” (recomendações musicais para o outono) e o fim de setembro marca o início do outono no hemisfério norte. Apesar de não ter dado muita atenção quando vi o vídeo, me lembrei do nome da cantora um par de semanas depois e resolvi dar uma chance. Digitei “phoebe bridgers” na aba de busca do Spotify e a música “Motion Sickness” apareceu. Acho que foi amor à primeira vista. Não me lembrava de ter gostado tanto de um artista o ouvindo pela primeira vez desde que escutei “Paper Bag”, da Fiona Apple.
Tinha catorze anos e uns 8 meses, mais ou menos. Estava passando por um momento um tanto complicado, encarando uma crise depressiva. A pandemia acabara de engolir o primeiro ano da minha adolescência. Fazia um tempo que eu não tinha um contato real com pessoas da minha idade, além do meu primeiro namorado, que havia terminado comigo menos de um mês antes e acabou por me machucar bastante.
Nesse dia em que ouvi “Motion Sickness” pela primeira vez, estava numa pousada em Paraty. Acho que meus pais tinham saído para fazer alguma coisa na cidade e eu resolvi ficar por ali. Como não tinha muita coisa para fazer, nem muita energia para ir atrás de algo, só deitei numa rede e coloquei meus fones-de-ouvido — que ainda eram de fio na época.
A música em questão foi lançada em 2017, no primeiro álbum de Bridgers: “Stranger in the Alps”. Achei a capa engraçada. Depois descobri que é uma foto da própria Phoebe, criança, rabiscada com caneta branca. Nela, a cantora aparece como um fantasminha numa fazenda.
“Motion Sickness” tem um riff marcante e uma melodia pincelada graciosamente pela voz suave da Phoebe Bridgers. O primeiro verso da música já dita o tom da canção, que a própria cantora descreveu como sendo sobre “estar apaixonada por alguém que é super mau com você” — I hate you for what you did, but I miss you like a little kid (te odeio por causa do que você fez, mas sinto sua falta como uma criancinha). É quase uma descrição perfeitamente precisa de como eu estava me sentindo, deprimida e desapaixonada, aos catorze anos, num feriado melancólico.
Fui positivamente surpreendida pela música e então pela discografia inteira de Bridgers. A cada música que ouvia, queria mais e mais. “Stranger in the Alps” foi a trilha sonora da minha viagem a Paraty — todos os cenários praianos e coloniais da cidadezinha carioca. Ouvia Phoebe Bridgers dia e noite, em todos os lugares. Hoje vejo as fotos, nas quais apareço usando o dito fone-de-ouvido de fio e sei, com certeza, que estava ouvindo suas músicas.
No ano seguinte, tive a chance de ir à Inglaterra. Numa loja HMV, no centro de Oxford, encontrei o CD de “Punisher”, o segundo álbum da cantora, que considero sua obra prima. Comprei-o e hoje ele faz parte da minha pequena coleção de discos. Fica numa prateleira em meu quarto, ao lado de CDs do The Cure, The Smiths, Amy Winehouse e Hole.
Phoebe Bridgers marcou não somente um momento triste da minha vida, mas também a transição para dias melhores. Minha música favorita é “Graceland Too”, uma baladinha com um banjo fofo. Penso que realmente descreve quem me tornei depois de todo esse tempo presa em mim mesma, amarrada a uma tristeza sem fim: No longer a danger to herself or others, she made up her mind and laced up her shoes. É uma canção de amor, sobre uma amiga de Bridgers, mas para mim, representa o amor que construí comigo mesma e a amizade que encontrei em mim.
Amo a Phoebe e sinto uma conexão imensa com toda a sua discografia. Ela é uma inspiração e um ícone. Suas músicas me ajudaram em momentos difíceis e potencializam os dias felizes. Não gosto de rotular os artistas que ouço, mas certamente, Phoebe Bridgers é minha favorita. Seu pop/folk sincero e sensível ressoa muito comigo e com muita gente no mundo todo.
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