Noite passada eu assisti Mauvais Sang, do Leos Carax, no CINUSP. Moro muito perto da USP, mas nunca tinha ido ao cinema, então resolvi fazer algo diferente. Foi definitivamente uma experiência.
O filme é muito bom: a trilha sonora é incrível e eu não consigo parar de pensar na cena em que Alex está correndo na rua violentamente ao som de Modern Love, do David Bowie. Acho que senti muitas coisas vendo esse filme, mas não sei exatamente quais, porque quando terminou eu estava anestesiada.
Conheci algumas pessoas lá. Um cara que está fazendo mestrado em Filosofia e uns alunos de Cinema da FAAP. Encontrei um conhecido, que faz Audiovisual na USP, que era meu curso dos sonhos até eu resolver que me daria melhor na Letras.
Me sentei com eles na sessão. Nós quatro, juntos na quinta ou sexta fileira. Estava ao lado do garoto que eu conheço e perguntei se ele já havia visto Mauvais Sang, mas não lembro o que ele respondeu. O filme tirou meu foco das conversas que tive.
Uma coisa que chamou minha atenção fora da tela, no entanto, foram as outras pessoas ao meu redor. Me peguei várias vezes mirando seus rostos, fascinada pelo jeito que encaravam a projeção. Costumo pensar que sou tão diferente dos meus amigos e que não temos muito em comum, porque gostamos de coisas diferentes e em intensidades diferentes. Mas, naquela sala, me senti conectada com todos aqueles desconhecidos.
Toda vez que virava a cabeça e encontrava o olhar de alguém, era como se eu e a pessoa fôssemos grandes amigos, antigos conhecidos. Estávamos compartilhando um momento trivial, uma sessão de cinema, mas parecia que algo muito maior nos envolvia. Eu estava tão consciente do tempo e do espaço que, por instantes, ambos desapareciam. Eram só eu e esse alguém, por acaso, vendo o mesmo filme. Uma coincidência feliz.
Não sei nenhum dos seus nomes, ou de onde vêm, ou o que fazem ou o motivo de estarem ali. Só sei que se não fosse pela presença de todos esses espectadores, eu teria me sentido menos pertencente àquela sala de cinema. Não me sinto adequada em muitos lugares. Como se realmente não pertencesse. Mas ali, mais do que em qualquer lugar, eu pertenci, eu era adequada.
Penso que me identifiquei com cada um, de alguma maneira, porque todos estávamos no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa. Não vou me lembrar de todos para sempre, seria uma besteira dizer isso, mas me lembrarei dessa sensação de tranquilidade — de ser eu mesma onde ninguém sabe meu nome, mas sabe exatamente quem eu sou.
Quando nossos olhos se encontravam, me apresentava para cada pessoa. Abria completamente meu coração e deixávamos de ser desconhecidos. Compartilhei tudo que pensava sobre o filme e sobre a vida também, sem nem me dar conta. Sinto que fizeram o mesmo, porque quando cheguei em casa, senti que tinha conhecido o mundo.
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