Acordei de meu delírio de grandeza. Sou pequena, assim como todos neste mundo, também pequeno. Grandes são as galáxias, com suas estrelas que morrem, seus buracos negros. Perto dessa imensidão sou apenas um inseto, um verme.
Meu delírio finito me trouxe um questionamento. Um questionamento vazio, apenas um ponto de interrogação. Essa sensação, essa dúvida permeia agora meu corpo e viaja pelas minhas veias. Ela é um verme comparada a mim. Um verme que vive como praga em minhas entranhas.
Não sei qual é a pergunta, então nunca encontrarei as respostas. Respostas, plural, porque podem haver várias. Não acredito em dicotomias e não penso em preto e branco. Não existe para mim apenas o sim ou o não; entre eles há o talvez.
No vazio da questão, o que me preenche são os pensamentos. O grande será. E se? Sim. Não. Talvez.
Me aceito como diminuta, assim como aceito a grandeza. Quando perdida em minha psicose, fecho os olhos e me deixo levar. Vibro. Não me contenho. Não é que eu não seja capaz de me conter, porque em meus delírios sou capaz de tudo. Sou uma grande árvore, com os galhos esticando, crescendo, criando uma floresta de um ser só. Minha copa cobre a luz do sol.
A luz, muito associada à sabedoria. Minha grandeza é maior que a grandeza do saber. Não é sua concorrente, mas paralela. Ser maior não implica saber mais, mas saber diferente. Por isso sei muito. Mas não conheço minha pergunta.
Mas agora sou pequena, já não sei mais tanto. Retornei à forma original. Agora sou apenas um bebê. Sinto apenas medo, muito medo. Medo do meu ponto de interrogação. Mas também sinto amor, o amor puro de uma criança, aquela que anseia pela mãe. Minha mãe é a pergunta, clamo por ela. Onde está? Quando vai me segurar em seu seio e cantar, beijar boa-noite? Não sei. Tenho medo.
Uma vez elucidada, livre do meu delírio de grandeza, dou à luz a outro delírio, um delírio de pequenez. Um delírio de medo, aterrorizante. Esse ponto de interrogação já viajou dentro de mim e fez o seu lar no meu coração. Ele é tão grande que não cabe ali. Sinto dor. Sinto medo. Sinto medo de mais dor.
Uma dor que ela própria delira. Ela própria tem seu momento de grandeza. Ela própria sonha, ela própria vibra. Ela também tem seu momento de psicose. Tenho medo dela porque ela me devora, louca, pode me engolir. E eu, louca, me perco em suas entranhas.
Deliro mais uma vez. Dor, dor, muita dor. A dor é vermelha e é tudo que enxergo. Meu coração, vermelho, bate, mas não o sinto. Ele é pequeno e eu, grande. A dor, enorme.
Somos irmãs. Não mais a temo. Somos uma só. Não sou mais bebê, sou mãe, sou Jezebel. O mundo é meu reino e a dor minha coroa, orbe e cetro.
Estou subindo, subindo, subindo… escalo minha dor gigante. Ela se estende como uma montanha e eu me debruço sobre ela, avançando em direção ao topo. Subindo, subindo, subindo… então caio, rosto no chão. O baque surdo me perturba. Acordei de meu delírio de grandeza. Tenho uma pergunta em mim.
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